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ARQUIVO 28 -  PERGUNTAS  E  RESPOSTAS  DE  JULHO 2005 A DEZEMBRO 2006

Este foro é aberto ao público. Todos são convidados a perguntar, questionar, divergir, opinar, ou esclarecer. Mande suas consultas e opiniões para um dos endereços abaixo e nós responderemos com a maior brevidade possível. As mensagens de interesse geral, juntamente com as respostas, serão publicadas com o nome do autor. Respostas já publicadas podem sofrer revisões.

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Q#570: A necessidade de reformulação dos cursos de Letras
Olá Ricardo,
Ainda pensando sobre o tema do meu projeto de monografia, percebi que, dentre muitas das falhas do ensino de inglês no Brasil, há mais uma: Escolas públicas e particulares, sobretudo algumas instituições de ensino superior, estão utilizando a "Terceirização do Ensino de Inglês", ou seja, o ensino superior tenta suprir suas falhas relacionadas ao ensino de línguas, como por exemplo: a proficiência do inglês, contratando docentes "não formados" a curto prazo para ensinarem docentes nas faculdades.
No âmbito do ensino superior de línguas estrangeiras, mais especificamente o inglês, é possível constatar que a presença desses institutos terceirizados, em especial; “os cursos livres de idiomas” que prestam serviços às universidades no próprio domínio do ensino superior, promovem e reforçam um discurso de que não é possível se aprender língua estrangeira no contexto da instituições de ensino superior, e muito menos ainda nas escolas regulares.
Esta invasão dos cursos livres também está acontecendo com o ensino do espanhol, visto que há um déficit de professores realmente capacitados para ensinarem a língua espanhola.
Trata-se de uma oferta ofensiva, que acarreta num profundo processo de desestruturação e desestabilização dos mecanismos educacionais de ensino superior, uma vez que deturpam a figura do profissional licenciado em Letras e do próprio curso que o forma. Além disso, seu espaço de trabalho tem sido cada vez mais reduzido pelo mercado, que necessita do ensino como "mercadoria".
Diante disso eu pergunto:

- COMO SERÁ O FUTURO DO PROFISSIONAL DE LETRAS ??
- PORQUE A LICENCIATURA DO CURSO DE LETRAS AINDA CONTINUA DUPLA EM ALGUMAS FACULDADES ?
- NÃO RESOLVERIA PARTE DO PROBLEMA, SE SEPARASSEM A LICENCIATURA DUPLA INGLÊS/PORTUGUÊS ??

Do jeito que vai, no futuro próximo teremos faculdades McDonalds, IBM, Motorola..., visto que o ensino se tornou um máquina de dinheiro...
Gostaria de falar sobre a "A Terceirização do Ensino de Inglês no âmbito superior". É mais ou menos isto. O que você acha? Por favor ajude-me.
Obrigada.
Cynthia Danielle <cynthiaealvaro*hotmail.com> Dec 4, 06
Prezada Cynthia,

Suas ideias são excelentes. Você toca no x da questão, mexendo com toda essa estrutura torta que aí está.

É fato sabido e comprovado que não se adquire proficiência em língua estrangeira na vasta maioria dos cursos de Letras das universidades brasileiras, muito menos nas escolas de Ensino Médio. Cursos de Letras deveriam ater-se ao estudo e análise de literaturas enquanto que linguística e metodologias de ensino de línguas estrangeiras poderiam ser desenvolvidos como cursos novos, independentes ou como ramificações da psicologia. Requisito para ingresso seria proficiência plena na língua e na cultura estrangeira e uma licenciatura curta de 4 semestres seria mais do que suficiente para proporcionar toda a formação acadêmica necessária para formação de ótimos professores/instrutores de língua estrangeira.

Sua ideia de individualizar os cursos formadores de professores de língua estrangeira é acertada e necessária. Em outros países esta duplicidade não existe e não me parece haver qualquer razão para existir. Afinal, ensinar a estrutura gramatical da língua materna é completamente diferente do que ensinar uma língua estrangeira.

Eu não me preocuparia muito com a suposta "terceirização do ensino de inglês" aos cursos livres, pois estes na sua maioria também carecem de competência e eficiência. Principalmente aqueles pertencentes a redes de franquia, com seus pacotes didáticos padronizados e fechados, inspirados pela metodologia dos anos 60 e pouca preocupação com instrutores verdadeiramente proficientes. Eles não chegam a preencher a lacuna; estão apenas explorando de forma oportunista a ineficácia do sistema sem saná-lo. São mera consequência e não causa do problema.

Em vez de falar deste "oportunismo mercadológico" e continuar discutindo os aspectos negativos do sistema, você poderia, na parte final de sua monografia, sugerir a reformulação dos cursos de Letras e propor soluções representadas por mais intercâmbio com o exterior, que permitam maior presença de professores/instrutores estrangeiros nos meios acadêmicos, e que possibilitem a criação de centros de convívio multicultural como o idealizado por nós em https://www.sk.com.br/sk-ccm.html.

Boa sorte em seu trabalho.
Ricardo - EMB

Q#569: As deficiências do ensino de línguas como tema de monografia
Olá Ricardo,
Gostaria de parabenizá-lo pelo excelente conteúdo deste site! Sou estudante de Letras mas, infelizmente, ainda não falo inglês, pude perceber ao longo desses anos na minha faculdade a deficiência do ensino da língua inglesa, que se baseia apenas na gramática. Irei concluir meu curso em 2007, e infelizmente levarei comigo um ensino muito semelhante ao que tive no ensino médio. Por isso pretendo abordar na minha monografia um pouco dessa experiência pela qual estou passando. Além de constatar que o ensino do inglês é ineficiente, pude verificar que a licenciatura dupla (Inglês/Português) compromete ainda mais o ensino do inglês, visto que os objetivos do aluno ao estudar a estrutura da sua língua materna e ao iniciar-se na língua estrangeira são muito distintos. Dessa forma, gostaria de uma sugestão para o tema do meu projeto de monografia. Muito Obrigada!
Atenciosamente,
Cynthia Danielle <cynthiaealvaro*hotmail.com> Nov 25, 06
Prezada Cynthia,

O linguista e escritor Carlos Alberto Faraco já disse em 2001:

Em termos de língua, ainda vivemos culturalmente numa fase pré-científica e, portanto, dogmática e obscurantista.

Sua experiência também é a experiência de muitos outros. A raiz do problema está na falsa e generalizada ideia de que línguas são study subjects - matérias a serem estudadas. De que através de estudo formal, esforço intelectual, podemos desenvolver proficiência, ou seja, habilidade prática e funcional, o que seria como aprendermos a dirigir pelo manual, tendo raramente nos sentado à direção de um carro. O que a maioria dos cursos de Letras faz no Brasil, seria comparável a oferecer um curso profissionalizante para instrutores de auto-escolas que não sabem dirigir ao ingressarem no curso, nem ao se formarem ...

O tema de sua monografia é pois muito relevante. Você poderia, na primeira parte, fazer um levantamento sobre a proficiência em inglês dos egressos dos cursos de letras, especialmente daqueles que seguem a carreira de professores de inglês em escolas de ensino fundamental e médio.

Diagnosticado cientificamente o problema, você poderia pesquisar o trabalho de pensadores como Piaget, Vygotsky, Maturana, Krashen, etc. e, a partir disso, apresentar sugestões de como resolver o problema, apontando novos caminhos a serem seguidos.

Não deixe de ler os Parâmetros Curriculares Nacionais do MEC referentes a língua estrangeira. Neste texto o MEC define quais os objetivos a serem alcançados (só não diz como alcançá-los) e você encontrará citações que lhe serão úteis.

Sinta-se à vontade em pesquisar nosso site, especialmente nossa página recentemente acrescentada sobre Centros de Convívio Multicultural - https://www.sk.com.br/sk-ccm.html

Boa sorte em seu trabalho.
Ricardo - EMB

Q#568: Will Chinese become more important than English?
I've heard comments even in the forum of this site about the growing importance of Mandarin Chinese in the globalized world. Do you think Chinese will someday become more important than English? What's your opinion?
Marceli Fabri <marcelifabri*yahoo.com.br> Jun 18, 06
Dear Marceli,

Of course Mandarin Chinese is going to grow in importance as China becomes a major trade partner in the world. However, I don't think it will become more important than English as a global language in the foreseeable future.

According to Quirk, Greenbaum, Leech and Starvik, there are four criteria to determine the international importance of a language. One criterion is the number of speakers of the language. A second is the extent to which the language is geographically dispersed: in how many continents and countries is it used or is a knowledge of it necessary? A third is its functional load: how extensive is the range of purposes for which it is used? In particular, to what extent is it the medium for highly valued cultural manifestations such as science and literature? A fourth is the economic and political influence of the native speakers of the languages and their nations.

Looking at the first criterion, we will find approximately half a billion of English speakers in the world against twice as many speakers of Chinese.

The second criterion, the geographical dispersal of the language, invites comparison with Arabic and Spanish, but none of them compare to English.

By the third criterion, English leads as the primary medium for science and technology. The vast majority of the world's scientific publications are in English. According to estimates from the US Department of Education, 60% of the world's radio broadcasts are in English. It is also estimated that 75% of all international communication in writing, 80% of all information in the world's computers, and 90% of Internet content are in English.

The fourth criterion brings to mind Japanese, Russian, German and Chinese. But in spite of the US government's tendency to mishandle their nation's leading role, the combined GNP of the USA, Canada, Britain and Australia is almost 50% higher than the rest of the world.

Another interesting phenomenon we need to consider is the number of nonnative speakers of English that are functional in English as compared to nonnative speakers of Chinese that are functional in Chinese. The number of speakers and students of English as a second language is not only strikingly higher but also grows at a faster pace:

Pense nisso...

Regards,
Ricardo - EMB

Q#567: O mito do falante nativo no ensino de Inglês
Achei seu texto sobre monolinguismo <https://www.sk.com.br/sk-monol.html> meio complicado do ponto de vista ideológico. Ali contém alguns mitos como a supremacia do falante-nativo e a hipótese do período crítico que são conceitos controversos, principalmente para quem adota uma abordagem sócio-interacionista - que é o meu caso.
Como quase todas as questões na Linguística Aplicada, a suposta supremacia do falante-nativo como professor de língua estrangeira é um mito que para ser explicado é mais complexo do que parece. Vou tentar ser breve, levantando apenas as questões que acredito serem mais urgentes:
1 - O fato de ser falante nativo de qualquer língua que seja, não faz de ninguém um professor dessa língua. Concordas? Além de ser capaz de fazer uso de uma dada língua nas várias situações, parece de fundamental importância que esse indivíduo tenha uma compreensão de seu funcionamento em termos gramáticais, que ele saiba articular a estrutura da língua, explicitando seu funcionamento para os aprendizes e que ele consiga ter uma boa base sobre os processos de ensino e aprendizagem. Não que todos esses itens vão garantir que ele seja um professor brilhante, mas, pelo menos, diminuem as chances de ele passar para os alunos, direta ou indiretamente mitos e crenças relativas ao processos de ensino e aprendizagem de LE, tais como:
a - Para aprender a falar em inglês, tem que pensar em inglês. Você conhece alguém que saiba ensinar como fazer isso? Existe a possibilidade de se substituir a língua materna, pela segunda língua?
b - Só se aprende inglês num país onde a língua oficial seja inglês. Eu conheço vários falantes fluentes e competentes que nunca pisaram os pés num aeroporto e, no entanto, se viram muito melhor com inglês do que pessoas que moraram há 10, 15 anos nos EUA ou Inglaterra. Já tive vários professores nativos aqui no Brasil e lá nos EUA e muito professores não nativos e confesso que aprendi muito mais com os não-nativos do que com os nativos.
2 - Com o inglês reclamando o posto de língua-franca, ou língua global e o número de falantes não-nativos sendo mais que o dobro de falantes nativos é complicado assumir que existe um modelo adequado a ser seguido. Acho complicado um linguista dizer que a forma mais pura da língua inglesa está em determinada região dos EUA. Como uma língua que sofreu influência de virtualmente todas as línguas do mundo, que vem de um ramo anglo-saxão - esse nome já demonstra que houve uma mistura desde o início - que teve como país de origem a Inglaterra, vai existir de uma forma pura. O que quer dizer língua pura? Em que isso implica? Quem é que determinou que é essa e não a forma veiculado pela BBC e, supostamente, falada pela rainha Elisabeth II que é a correta? Então devemos ensinar a nossos alunos a falarem como "nos ensina" a BBC. Segundo estudos essa variade é falada por menos de 5% da população da Inglaterra. Acho difícil que os nossos alunos precisem se comunicar em inglês justamente com essa parcela da população mundial.
Como brasileiro, Linguista Aplicado, fruto de um relacionamento "supostamente" interracial, fico bastante preocupado quando ouço coisas desse tipo. Acho interessante a gente ficar atento à ideologia que está por trás desse tipo de discurso.
Conheço vários casos de pessoas que fizeram questão de contratar instrutores nativos (pois para ser professor, na minha opinião, é preciso ter feito um curso superior de licenciatura) e tiveram resultados abaixo do esperado. Conheço também pessoas que tiveram resultados bastante positivos com professores não-nativos. Assim como conheço pessoas que aprenderam muito bem com falantes nativos e conheço pessoas que não conseguiram sair do intermediário com professores não nativos. O que eu quero dizer é que o simples fato de o professor se nativo ou não não vai indicar o sucesso da aprendizagem da LE. Ao meu ver, isso é apenas um detalhe, principalmente para os níveis iniciais. O que parece mais importante é que o professor não só fale, mas conheça a língua que está ensinando e seja sensível ao contexto para aplicar a abordagem mais adequada aos alunos e ao objetivo do programa que ele faz parte.
Obrigado pela atenção, desculpe-me se me exaltei, mas acho interessante que esse tipo de questão seja discutida. Se tiveres interesse, posso te mandar referências bibliográficas nas quais esses tópicos são discutidos. De início, acho que vale a pena dar uma olhada em Rajagopalan, Kumaravadivelu e Phillipson.
Atenciosamente,
Gisvaldo Araújo <gisvaldo*hotmail.com> Feb 26, 06
Prezado Gisvaldo,

Obrigado por sua mensagem esclarecendo o porquê de você julgar as vantagens do instrutor falante nativo um mito. Sua argumentação é clara porém revela a interferência de outro mito profundamente enraizado: o de que o aprendizado de línguas se dá através do estudo formal, de que línguas podem e devem ser ensinadas em vez de apreendidas, de que este processo consiste em transmitir conhecimento a respeito da estrutura e das regras da língua-alvo.

Exemplos desse mito são todos os brasileiros que, apesar de estudarem a estrutura da língua inglesa no ensino médio, não alcançam proficiência nenhuma. Nem mesmo aqueles que decidem cursar faculdade de Letras, se não tiverem contato com ambientes da língua e cultura que estudam, dificilmente alcançam a proficiência desejada. Exemplos também são os jovens que participam de programas de intercâmbio de meio ano e 1 ano em ambientes de língua e cultura estrangeira e alcançam alto nível de proficiência.

Se for nossa intenção oferecer um programa nos moldes convencionais, enfatizando o estudo formal da língua, trabalhando com livros de textos, com a língua na sua forma escrita, tendo como objetivo principal acumular informação e conhecimento sobre o funcionamento do idioma, sobre sua estrutura, nesse caso a qualificação técnica do professor assume importância maior e provavelmente o não-nativo, com sua visão das diferenças gramaticais entre as duas línguas terá uma clara vantagem.

Entretanto, se nosso programa tiver como objetivo desenvolver habilidade funcional sobre o idioma, em que o papel do instrutor é criar um ambiente de língua e cultura e construir um relacionamento com o aprendiz, onde a ênfase é a interação humana natural entre pessoas que representam diferentes línguas e culturas, na qual um funciona como agente facilitador e através da qual o outro (aprendiz) constrói sua própria habilidade, na direção de seus interesses pessoais ou profissionais, o falante nativo é praticamente insubstituível.

Portanto, falantes nativos e não-nativos, cada um tem o seu papel. O programa ideal será aquele que oferecer predominantemente assimilação natural em ambientes conduzidos por falantes nativos (ou quase nativos) no papel de facilitadores, transmissores de sua linguagem e cultura. Tais programas podem ser complementados com aulas de orientação pedagógica e gramatical sob responsabilidade de um professor não-nativo competente.

Quanto à falsa crença de que "só se aprende inglês num país onde a língua oficial seja inglês", estamos de acordo. Certamente o fator determinante não é a questão territorial, mas sim o convívio humano, o ambiente caracterizado pela presença predominante da língua e da cultura estrangeira. Exemplo disso são os guetos e os bairros mexicanos de algumas cidades do Arizona e do Novo México, onde o imigrante vive nos EUA mas convive em ambientes de língua e cultura mexicana, não alcançando nunca proficiência em inglês. Exemplo disso são também as escolas internacionais em cidades como São Paulo, departamentos de empresas multinacionais onde predomina a língua estrangeira, e até mesmo escolas de línguas que souberam criar ambientes de convívio em língua e cultura estrangeira com a presença forte de falantes nativos, onde se alcança altos níveis de proficiência.

Quanto ao fato difundido popularmente de que "para aprender a falar inglês, tem que pensar em inglês", o qual você considera uma falsa crença, eu discordo. É um dito popular que contém sabedoria. Como linguista você sabe que linguagem e pensamento são fenômenos intimamente relacionados, que o monolíngue é aquele cuja mente só funciona nas formas da língua materna, e que o aprendizado de uma língua estrangeira consiste essencialmente na eliminação da interferência da língua materna. O contrário disso, que a linguagem popular denomina de "tradução mental", é a atitude natural de toda a pessoa monolíngue, ao se deparar com uma língua estrangeira. Se esta atitude, entretanto, for utilizada como ferramenta de aprendizado e vier a se tornar um hábito, se transformará num entrave ao aprendizado, pois não há cérebro humano que consiga se expressar criativamente processando duas línguas simultaneamente. Para ilustrar, permita-me duas citações de Vygotsky:

"A word devoid of thought is a dead thing, and a thought unembodied in words remains a shadow." (153)
"... the speech structures mastered by the child become the basic structures of his thinking."(51)
Vygotsky, L. S. Thought and Language. Cambridge, MA: The M.I.T. Press, 1985.

Veja mais sobre este tema em:
Interferência, interlíngua e fossilização
Tradução mental
Vygotsky

Quanto ao fato de existir um grande número de falantes não-nativos de inglês no mundo globalizado de hoje, e consequentemente um grande número de variações dialetais, e de que nenhuma dessas variações pode ser considerada mais "pura" do que as demais, você tem ampla razão. Tudo é uma questão de preferência pessoal ou de motivos circunstanciais específicos. Por exemplo, um jovem empresário pode preferir o dialeto norte-americano para trabalhar na filial brasileira duma multinacional daquele país; outro pode dar preferência ao dialeto britânico para atuar junto a clientes europeus; assim como qualquer pessoa pode preferir assimilar o Indian English para trabalhar na Índia ou algum dos dialetos crioulos do inglês caribenho por quaisquer motivos de ordem pessoal.

Regards,
Ricardo - EMB

Q#566: Ensino x aprendizado
Uma vez alguém me perguntou, o que é ensinar inglês? Fiquei um pouco pensativo e falei: Boa pergunta.
Sabia que a pessoa não estava falando apenas em estar em uma lousa escrevendo e explicando, e sim algo muito mais profundo.
Gostaria que alguém me ajudasse a desvender isto, o que é ensinar inglês para você?
Jodide, estudante universitário <jodide2006*hotmail.com> Feb 18, 06
Prezado Jodide,

"O que é ensinar inglês?" realmente é uma pergunta instigante que nos obriga a refletir sobre a complexa relação ensino x aprendizado. Entretanto, eu prefiro abordar a questão sob o prisma oposto: "O que é aprender inglês? Pode parecer apenas um jogo de palavras, mas se pensarmos bem, encontramos diferenças conceptuais de importância crucial.

A ideia de "ensinar" está baseada no pressuposto de que a iniciativa parte de fora. O sujeito é o professor, agente de um sistema de ensino, que através de um método preestabelecido procura influenciar o aluno-objeto. Este professor, através de suas experiências, já digeriu e sintetizou seu conhecimento e procura transmiti-lo.

Na ideia de "aprendizado", por outro lado, o sujeito da relação, o agente tomador da iniciativa é o aprendiz. Não há objeto nem conhecimento a ser transmitido. Este deve ser, isto sim, "construído". O processo pressupõe que haja motivação por parte do aprendiz, bem como ambientes propícios, onde a língua e a cultura estrangeira predominem. O papel do instrutor/facilitador é o de garantir a presença e a autenticidade da língua estrangeira e oferecer apoio apontando rumos e proporcionando esclerecimentos e incentivos, ajudando o aprendiz a percorrer os caminhos necessários.

A relação de ensino x aprendizado portanto pressupõe dois protagonistas: de um lado, o professor (intrutor, facilitador), e, do outro lado, o aluno (aprendiz). Independentemente do lado em que estamos, se nos perguntarmos qual o objetivo maior da relação ensino x aprendizado, logicamente responderemos que é o aprendizado. Parece entretanto que os esforços para desenvolvimento da educação do ser humano ao longo dos séculos acabaram por nos desviar do rumo. Houve, por assim dizer, uma troca parcial dos fins pelos meios. Ou seja, o verdadeiro e único objetivo (o aprendizado) acabou ofuscado pelo meio que se propõe a alcançá-lo (o ensino).

Sobre o que vem a ser aprender inglês e como aprendê-lo, veja: https://www.sk.com.br/sk-oque.html

Regards,
Ricardo - EMB

Q#565: A-Levels
Oi, eu tenho uma dúvida. Qual a equivalência do A-level report da Inglaterra para o ensino brasileiro?
Aguardo resposta,
Nadja Melentovytch <nmelentovytch*hotmail.com> Feb 15, 06
Prezada Nadja,

Os exames e certificados do sistema educacional britânico conhecidos como A-Levels não têm propriamente um equivalente no sistema brasileiro. A-Levels são exames aplicados ao longo de 2 anos de estudo não-compulsório entre o ensino médio e o superior, e funcionam como vestibular, além de certificar que o aluno possui uma qualificação acadêmica ou profissionalizante. O exame é oferecido em diferentes áreas de conhecimento, tanto acadêmico quanto profissionalizante e o estudante normalmente opta por 2 a 4 áreas de seu interesse.

Veja também nosso gráfico que mostra e correlaciona os sistemas educacionais brasileiro, norte-americano e britânico, na página https://www.sk.com.br/sk-edsys.html.

Regards,
Ricardo - EMB

Q#564: Inglês e a ameaça da hegemonia norte-americana
Caro:
Sou advogado especialista em Direito Internacional Público, professor e mestre em história e geografia, além de licenciado em línguas indo-européias (neolatinas, eslavas e anglo-saxônicas), com mestrado e doutorado em línguas mortas, a saber, o latim, o grego clássico e o hebraico antigo, que leciono em uma faculdade de Teologia. Estudioso de idiomas desde a tenra idade dos cinco anos aprendi, "por fora", as língua celtas, o Esperanto (sou filho e neto paterno e materno de esperantistas) e o japonês.
De minha larga experiência no assunto sempre tentei rejeitar a tese de que a preferência pelo inglês se deva à sua suposta "facilidade", da qual o próprio Bernard Shaw, em seu famoso Pigmallion, troçava com sua típica picardia irlandesa. Ainda que sua sintaxe seja relativamente simples, o inglês está longe de ser, como o são o francês, o alemão ou até mesmo o russo, uma língua fácil do ponto de vista fonético, na medida em que possui muito mais vogais faladas do que escritas, além de palavras que têm pronúncias diferentes embora com grafia quase semelhante. Note-se, a tal propósito, que os vocábulos ingleses bow e low pronunciam-se "bôu" e "lôu", enquanto cow e now, quase semelhantes (exceto pela consoante que os antecede) pronunciam-se "káu" e "náu". O "i" e o "y" então são uma tragédia à inglesa, podendo ambos serem pronunciados "i" ou "ái", conforme possam variar seus antecedentes consonantais. Já isto nunca ocorre, por exemplo, no alemão, no qual o ditongo "ei" é sempre pronunciado "ái", independentemente da consoante que o anteceda. Assim, o "ei" em schneider (alfaiate) é "ai", pronunciando-se "chnáider", como igualmente o é em partei (partido), pronunciado "partái". O som do ditongo permanece inalterado em ambos...
Prezado Hamilton,

Obrigado por sua mensagem, a qual, partindo de uma pessoa culta como você, muito nos honra.
Permita-me responder aqui a primeira parte de sua mensagem, acrescentando minhas modestas opiniões às questões por você levantadas.

Você está plenamente correto ao discorrer sobre a desconcertante falta de regularidade na interpretação fonética da ortografia do inglês (ou, talvez devêssemos dizer: ... na representação ortográfica da língua inglesa) e seus exemplos são bem ilustrativos. É fato sabido que o inglês, de todas as línguas modernas que se conhece, é a que apresenta a pior correlação entre pronúncia e ortografia. Este é um fenômeno de relevância, que mereceu em nosso site uma página específica (www.sk.com.br/sk-interfer.html) devido às suas fortes implicações no ensino de inglês como segunda língua.

... Quanto ao decantamento do inglês como língua internacional, muita hipocrisia subjaz a esta afirmação no sentido de ocultar-se o fato de que, quando falamos da língua inglesa estamos, sub-repticiamente, falando do que se convencionou chamar de American English e não do denominado British English. Embora os "donos" oficiais do idioma, quer linguística, quer historicamente, os ingleses já foram alijados, pelo crescente poderio do Império Americano, deste processo cultural que os torna proprietários da nobre língua de Charcer. Indague-se a qualquer jovem por aí que nome ele associa à língua inglesa e ele lhe dirá: aos Estados Unidos da América. Mesmo que o nome da língua seja ... inglês. Não se passarão muitos anos e ainda poderemos ver expressões do tipo "língua americana" grassando por aí e substituindo, na maior "cara de pau" (se me desculpa a gíria necessária) a língua inglesa. Os americanos ainda vão se apropriar dela como se este rebento do saxão antigo tivesse nascido nas planícies do Meio Oeste ou se tivesse sido "inventado" pelos primeiros imigrantes quakers do Mayflower...

O papel do inglês como língua internacional deste mundo moderno é fato, não decantamento. Considere também que a enorme abrangência de sua projeção se dá nas formas de seus dois dialetos predominantes: o Standard American e o British, este predominante na comunidade européia. Considere também que nas culturas dos países de língua inglesa, incluindo Inglaterra, EUA, Canadá e Austrália não parece haver qualquer tipo de disputa quanto a esta hipotética "propriedade" sobre o idioma (mesmo porque não se paga direitos autorais para se falar inglês). Considere ainda que as diferenças entre estes dialetos são pequenas e com tendência a diminuirem ainda mais, numa direção convergente. Isto, fruto do desenvolvimento das telecomunicações proporcionado pela informática, pela fibra ótica, e por satélites, etc., bem como devido aos estreitos laços culturais, comerciais e políticos entre os países de língua inglesa. É esta tendência à uniformidade dos dialetos de ingês que ensejou a criação do termo International English, hoje já amplamente usado e no qual não vejo nenhuma hipocrisia.

... Preconceituosamente, este portal denominou de analfabetos do futuro os monoglotas...

Por que preconceituosamente, Hamilton? Ao compararmos o analfabetismo do Século XX com o monolinguismo do Século XXI em nossa página https://www.sk.com.br/sk-monol.html, o fizemos baseados em fatos amplamente conhecidos. Você poderia explicar melhor essa afirmação?

... Talvez o sejam mas o que não concordo é que o conceito de poliglota tenha, necessariamente, de ser caracterizado pelo conhecimento do inglês, aqui tido por "referência" cultural...

Você poderia apontar a página da Internet onde leu que só se considera poliglota quem fala inglês? Talvez tenha sido em outro portal.

... Pessoalmente considero-me um linguista e poliglota (leio e escrevo 27 idiomas, dos quais falo 12) não por saber inglês mas apesar de sabê-lo. Para mim pesam muito mais o conhecimento de outras línguas igualmente necessárias ao desenvolvimento da cultura no mundo inteiro do que o mero conhecimento do inglês, na minha bagagem cultural apenas uma língua a mais...

Meus sinceros cumprimentos por suas amplas habilidades com línguas estrangeiras. Você está certo ao afirmar que todas as línguas estrangeiras têm importância. A importância que determinado idioma tem para cada um é subjetiva. Pode depender da origem da pessoa, de sua carreira profissional, ou simplesmente de uma preferência pessoal devido a uma maior identificação com uma determinada cultura estrangeira.

... Além do mais, vocês estão desconsiderando, com o desprezo tipicamente americano de tudo que é "non-American", dois fatores importantíssimos: o primeiro é que o estudo de outros idiomas estrangeiros está em alta nos próprios EUA. E segundo, a imigração hispânica na América está aumentando a influência do espanhol naquele país. Estados americanos como a Flórida e a Califórnia já podem ser quase considerados estados "bilíngues" da federação americana, dada a influência dos imigrantes mexicanos, colombianos e de exilados cubanos fugidos do regime de Fidel Castro. A hispanização dos EUA é um fator que não pode ser ignorado...

Temos pleno conhecimento de que o estudo de idiomas estrangeiros está em alta nos EUA, bem como de que a população de origem hispânica representa uma parcela muito significativa no país. Nosso site, entretanto, é voltado ao aprendizado de inglês no Brasil, e não ao ensino de línguas estrangeiras nos EUA.
A propósito, o fato de cada vez mais norte-americanos buscarem o aprendizado de línguas estrangeiras, bem demonstra que eles também não querem ficar monoglotas e reforça nosso argumento de que o monolinguismo representa uma ameaça. Você certamente concordará que o domínio de línguas estrangeiras representa não só fonte de conhecimento e ferramenta profissional, mas também uma importante voz política na diplomacia internacional. Quanto antes conseguirmos expressar nossos pontos de vista em linguagem convincente, no idioma da maioria, tanto melhores nossas chances de sermos ouvidos, para defendermos nossos interesses e combatermos injustiças.

... Portanto, creio que não há razão para tanto triunfalismo nem para tanto "ôba-ôba" com relação ao inglês. Por trás dos já conhecidos argumentos da suposta "facilidade" da língua inglesa, que são meias-verdades, jaz o dedo e a mão oculta do poderio econômico de uma superpotência que, com sua formidável máquina de guerra, domina ou aspira a dominar todo o planeta, a ele impondo seu "modus vivendi" e os valores duviosos do assim-denominado American way of life. E embora não estejamos tratando de ideologia, é preciso que eu lhes diga algo que reputo essencial no sentido de não ser mal interpretado: não sou comunista!

Cordialmente,
Hamilton Cesar Castro Carvalho - Petrópolis-RJ <hccc496*yahoo.com.br> Nov 18, 05

Desconheço linguistas que defendam a ideia de que a língua inglesa é fácil. Você saberia apontar um?
Quanto à importância do inglês no cenário mundial, não me parece ser uma questão de triunfo nem de derrota. É apenas uma constatação de fatos, frutos das circunstâncias.
Finalmente, quanto ao fato de haver um poderio econômico no hemisfério norte que permitiu a alguns países acumular riquezas que fazem falta em outras partes do mundo, riqueza esta em parte desperdiçada pelos EUA em uma máquina de guerra ameaçadora, e utilizada por um governo que emprega uma política externa altamente questionável além de pouco inteligente, você tem plena razão. Esta é uma questão séria e merecedora de muito debate. O objetivo de nosso portal, entretanto, volto a afirmar: é apenas e modestamente discutir e disponibilizar informações sobre o ensino de inglês no Brasil.

Não deixe de ler também Globalização e convergência de línguas.

Mais uma vez agradeço por seu interesse em nosso trabalho e convido-lhe a continuar participando.
Atenciosamente,
Ricardo - EMB

Q#563: Instrutor ou professor?
Olá,
Meu nome é Carlos, professor de inglês em escola de idiomas há mais de dez anos, e quero parabenizá-los pelo site e pela seriedade e comprometimento ao ensino dessa língua maravilhosa. No entanto, há algo que me inquieta: eu não me considero "instrutor" de inglês como o site se dirige a esses profissionais, e sim professor, aliás, acho que ninguém que leciona matérias escolares pode ser chamado de "instrutor". Não existe instrutor de matemática, instrutor de biologia, instrutor de física, então por que existiria instrutor de inglês? Apesar de ainda não estar formado em letras, desde 1991 eu venho estudando a fundo essa língua e venho passando meus conhecimentos aos alunos. Alguns sindicatos patronais querem essa denominação, com o que eu não concordo, e acho que este site também deve se questionar a esse respeito, mesmo aparentando ser algo sem importância.
Muito obrigado pela atenção e parabéns pelo trabalho!! Irei sugerir a outros professores que visitem esse site.
Valeu!
Carlos Pimentel, <pimentelcarlos*terra.com.br> Nov 6, 05
Prezado Carlos,

Obrigado pelas palavras de apoio ao nosso trabalho.
Seu questionamento nos remete a uma questão fundamental: O que, exatamente, significa aprender inglês?

Se "aprender inglês" significa ter conhecimento gramatical, conhecer a estrutura da língua, saber formar frases interrogativas e negativas no caderno sem errar, ter os verbos irregulares na sua maioria decorados, algum vocabulário, etc, então podemos abraçar a ideia de "ensino" e valorizar o papel do "professor", aquele detentor de conhecimento, cuja função é transmitir seu conhecimento ao aluno e sobre o qual recai quase toda a responsabilidade do processo.

Entretanto, se "aprender inglês" significa adquirir uma habilidade prática que permita sentir-se à vontade na presença de estrangeiros, acompanhar filmes e as notícias da BBC ou da CNN, ter acesso a toda informação disponível na Internet, argumentar, defender seus pontos de vista, funcionar como um ser humano normalmente funciona em sociedade, então devemos abraçar a ideia de "aprendizado", onde o aprendiz passa a ter uma dose maior de responsabilidade e o instrutor ou facilitador funcione como muleta, amparo, proporcionando o auxílio necessário até que o aprendiz consiga caminhar por seus próprios meios.

É por isso que, em nossa visão de um aprendizado ideal de línguas estrangeiras, de forma natural, como fruto de interação em ambientes da língua e sua cultura, preferimos os termos "aprendizado" em vez de "ensino", "aprendiz" em vez de "aluno" e "instrutor'"ou "facilitador" em vez de "professor".

Isso entretanto não diminui absolutamente a importância desta pessoa que representa a fonte de assimilação. Ao instrutor cabe grandes responsabilidades, tais como:

Obrigado por sua participação.
Atenciosamente,
Ricardo - EMB

Q#562: Native speakers' inability to explain grammar
Ricardo: note this quote from Dale in the EMB Forum regarding native speakers' poor ability to explain English grammar:
"His ears, eyes, and brain tell him that something is right or wrong,
but he may not be able to explain why."
This is so true. Native speakers, even the well educated ones, seem to be incapable of articulating how the English grammar functions, even though he/she instinctually employs perfect rules of grammar in his/her conversations. Likewise, semi-native speakers such as myself seem to have the same problems.
Now my question is, were an educated native speaker or I to engage in an intensive teaching program, how long would it take this hypothetical native or me to be able to clearly articulate how English grammar functions as well as you can?
As always I thank you in advance,
-Miguel Vieira <***@yahoo.com> Nov 4, 05
Dear Miguel,

Dale and you are right and your statements illustrate a very simple fact: that language proficiency is very little related to grammar knowledge.

Regarding how long it takes a native or a near-native to learn English grammar, I think it takes very little time. The huge task - to acquire proficiency in the language, either as a native or as a second language - has already been accomplished. After that, every rule the native or the near-native come across with will be easily learned and even the exceptions (not to mention the pronunciation!!) will all make sense because they match what your ears are familiar with. To reverse this order in the case of those that intend to become near-native can be very frustrating.

I was already fluent when for the first time I was asked to "teach" English conversation. My first reaction was to decline the invitation, but this school director in Japan insisted and I decided to face the new challenge. Although I was able to help the students, I was not able to answer the simplest grammar questions. My answer to the 'why' questions in the beginning would always be: Because that's the way people speak in English...

Regards,
Ricardo - EMB

Q#561: Fatores que influenciam as habilidades orais (listening e speaking)
Prof. Ricardo Schütz,
Venho através deste, solicitar sua preciosa ajuda. Estou fazendo uma monografia relacionada às habilidades de ouvir e falar na língua inglesa no ensino fundamental e médio. E gostaria de receber qualquer orientação sua, nesse sentido, que possa vir a nortear meu trabalho. Desde já agradeço qualquer ajuda e me coloco à sua disposição.
Bruno <bruno*cybermais.net> Oct 24, 05

Prezado Bruno,

Habilidades relacionadas à conversação em língua inglesa envolvem vários aspectos que você deverá pesquisar:

1) O de que línguas são fundamentalmente fenômenos orais, e que portanto dependemos totalmente de nosso aparelho auditivo para adquirirmos familiaridade com as formas da língua que estamos aprendendo e para monitorarmos nossa produção oral. Este fator (de natureza biológica) é um dos mais importantes no desenvolvimento de habilidades orais.

2) Você deverá investigar também todos os aspectos de natureza psicológica, como a motivação e a falta desta, e também as características de personalidade, tanto as negativas, que atuam como filtro na assimilação de línguas estrangeiras, como as positivas.
Exemplos de características negativas: perfeccionismo, falta de autoconfiança, dependência da eloquência, autoconsciência, ansiedade, provincianismo, etc.
Exemplos de características de personalidade positivas: auto-estima e autoconfiança, desinibição, criatividade (habilidade de improvisação), tolerância consigo próprio, empatia, curiosidade e perseverança.
Sobre motivação, veja https://www.sk.com.br/sk-motiv.html e sobre características de personalidade, veja https://www.sk.com.br/sk-talen.html

3) O fato de que línguas são fenômenos criativos, e não reflexos condicionados é outro aspecto fundamental. Daí provém a importância de buscarmos contato com ambientes autênticos de língua e cultura estrangeira para nosso aprendizado e não perdermos muito tempo com exercícios mecânico-repetitivos frequentemente encontrados na metodologia áudio-oral e áudio-visual dos cursos de inglês no Brasil.

Desejo-lhe um bom trabalho de pesquisa.
Atenciosamente,
Ricardo - EMB

Q#560: Substitution drills
Caro Professor,
O que exatamente vêm a ser substitution drills? E qual sua importância no ensino de inglês?
Sílvia <***terra.com.br> Sep 20, 05

Prezada Sílvia,

Substitution drill é um tipo de exercício da abordagem audiolinguística, cujo objetivo é auxiliar na assimilação de estruturas gramaticais. Há 2 tipos de substitution drills:

1) Single-Slot Substitution Drill (Teacher states a line from the dialog, then uses a word or a phrase as a "cue" that students, when repeating the line, must substitute into the sentence in the correct place.)

Exemplo 1: Se o objetivo subliminar de uma lição for exercitar o verbo to be na 1a. pessoa e desenvolver vocabulário, teríamos a seguinte dinâmica:

Teacher: I´m busy.
Students: I´m busy.
  hungry I´m hungry.
tired I´m tired.
thirsty I´m thursty.

Exemplo 2: Se o objetivo for praticar be phrases e do phrases no modo interrogativo, teríamos a seguinte dinâmica:

Teacher: Are you usually tired?
Students: Are you usually tired?
  play tennis Do you usually play tennis?
hungry Are you usually hungry?
eat hamburgers Do you usually eat hamburgers?
depressed Are you usually depressed?
drink a lot Do you usually drink a lot?
sleepy Are you usually sleepy?
work at night Do you usually work at night?
free on weekends Are you usually free on weekends?
go to the beach Do you usually go to the beach?

2) Multiple-Slot Substitution Drill (Same as the Single Slot drill, except that there are multiple cues to be substituted into the line. More challenging.)

Por exemplo, se o objetivo for praticar os verbos have e need com substantivos como complemento, poderíamos ter a seguinte dinâmica:

Teacher: I have a car.
Students: I have a car.
  he He has a car.
umbrella He has an umbrella.
(negative) He doesn´t have an umbrella.
need He doesn´t need an umbrella.
telephone He doesn´t need a telephone.
they They don´t need a telephone.
we We don´t need a telephone.
she She doesn´t need a telephone.
(affirmative) She needs a telephone.

Substitution drills são a menina-dos-olhos dos métodos áudio-orais e áudio-visuais, aqueles baseados em automatismo, atrelados a planos didáticos rígidos, na forma de receitas prontas tipo Livro 1, Livro 2, etc. Tais métodos estão hoje em declínio, mas exercícios áudio-orais como substitution drills, gravados em CD e usados como material de apoio, de forma complementar a uma abordagem mais comunicativa, podem ser de utilidade na internalização de certas estruturas.

Atenciosamente,
Ricardo - EMB

Q#559: Decoreba x assimilação
Porque a palavra decoreba adquiriu essa conotação negativa? Afinal, como uma participante do fórum deste site colocou, decorar significa 'de coração, sede da afetividade, da inteligência e da memória'. Afinal, não é através da repetição da palavra associada à apresentação do objeto ou da situação é que nos faz aprender o seu significado?
Elaine Sep 8, 05

Prezada Elaine,

O atual termo "decoreba" realmente possui uma conotação depreciativa, em oposição àquilo que se considera o verdadeiro aprendizado.

Minha sugestão é substituirmos a palavra "decorar" por "internalizar" ou "assimilar". As traduções do trabalho de Vygotsky para o inglês usam o termo "internalization" e Stephen Krashen usa o termo "acquisition".

Assim, deixamos o verbo "decorar" e o substantivo "decoreba" exclusivamente para nos referirmos àquela fixação na memória auditiva, sem esforço intelectual, resultado de repetição mecânica de nomes, datas, números de telefone, etc., ou de formas da língua descontextualizadas.

Por outro lado, o processo que mais nos interessa, aquele relacionado ao desenvolvimento cognitivo do indivíduo e de sua competência linguística, como fruto da história de sua experiência social, das situações vivenciadas em ambientes da língua estrangeira, receberia a denominação de "assimilação".

São dois conceitos muito diferentes que, uma vez bem compreendidos, vão nos ajudar a descrever mais claramente escolas e métodos de ensino. Que lhe parece?

Atenciosamente,
Ricardo - EMB

Q#558: Como aprender inglês VIII
Tenho 13 anos e, como todo jovem que pensa em ter um futuro hoje em dia, quero aprender o inglês. Faço um curso no CNA, mas tenho dificuldade para assimilar. Gosto de inglês e tenho duas perguntas:
1ª: quantos anos são necessários (aqui no Brasil) para alcançarmos um bom inglês?
2ª: o que posso fazer para assimilar mais rapidamente o inglês? (Estou dizendo APRENDER PRA VALER, não decorar.)
Obrigado, e gostei muito deste site.
Jefferson <jeffdogs*hotmail.com> Sep 5, 05

Prezado Jefferson,

Sua pergunta sobre o tempo necessário para se alcançar um bom inglês, é difícil de ser respondida. Em primeiro lugar porque não temos uma definição exata do que seja um "bom inglês". Aquilo que é bom para um pode não ser suficientemente bom para outro. Mas mesmo que tenhamos uma definição de consenso sobre o que significa um "bom inglês", o que mais dificulta calcular o tempo necessário, é a grande variação no ritmo de aprendizado de cada um. Este ritmo é determinado por uma série de fatores, tais como: tempo de exposição, motivação, acuidade auditiva, idade, características de personalidade, etc. Veja mais sobre em O que é talento?

Você está certo em querer "aprender inglês prá valer, não decorar". É certo que usa-se mais os ouvidos do que os olhos no aprendizado de línguas, mas tem que haver situações reais de interação, em que o aprendiz é protagonista e não espectador. A assimilação de elementos da língua depende de experiências concretas das quais o sujeito aprendiz participa e da interação linguística que ocorre em paralelo. Essa associação da experiência vivenciada, do conceito formado, com a linguagem rotuladora, é que proporciona a maioria dos dados nesse processo de desenvolvimento.

Portanto, não é através daquele esforço áudio-oral repetitivo, mecânico, frequentemente encontrado em "cursinhos de inglês" que seguem planos didáticos predeterminados tipo Livro 1, 2, 3, ... com lições contendo frases descontextualizadas que você vai maximizar seu aprendizado de inglês.

O que você pode fazer para acelerar seu aprendizado é aumentar o tempo de exposição ao inglês falado. Lembre-se que línguas são essencialmente fenômenos orais. Se em sua cidade você não tiver oportunidades de contato com ambientes de língua inglesa, com estarngeiros falantes nativos, pode pelo menos desenvolver familiaridade com o inglês através de gravações, filmes, TV, música, etc.

Atenciosamente,
Ricardo - EMB

Q#557: Dias da semana
Gostaria de saber qual o significado dos dias da semana em inglês.
Maria Lucia Batista <garantiavw*terra.com.br> Sep 4, 2005

Prezada Maria Lúcia,

Como na maioria das línguas, com exceção do português, os nomes dos dias da semana em inglês estão relacionados aos nomes dos planetas. Estes, por sua vez, são oriundos de nomes de deuses da mitologia romana para os dias da semana.

Monday - Moon day - dia da Lua (compare com o espanhol 'lunes')
Tuesday - dia de Tiu, deus germânico da guerra e dos céus, da mesma raiz que deu origem à palavra 'deus' em latim
Wednesday - dia de Woden ou Odin, deus germânico correspondente a Mercúrio, deus do comércio na mitologia romana
Thursday - dia de Thor, deus escandinavo
Friday - dia de Fria, deusa nórdica do amor, correspondente a Vênus, deusa do amor na mitologia romana
Saturday - Saturn day - dia de Saturno, Saturnus em latim, deus da agricultura
Sunday - Sun day - dia do Sol

Atenciosamente,
Ricardo - EMB

Q#556: Ocorre flapping em BrE?
Oi,
É apenas no inglês estadunidense em que há a regra "flapping"? Então só nos EUA o tt, dd vira /r/, sendo assim better nos EUA é pronuciado /berer/?
Na Inglaterra isso não acontece? Vi um filme internacional onde o cara fala "better" com o /t/ verdadeiro e não com o /r/ do flap.
Kitty Pride Aug 31, 05

Prezada Kitty,

Flaps [D], aquela consoante parecida com o "r" fraco do português (como em "caro") ocorrem tanto em AmE (American English) como em BrE (British English). A regra conhecida como flapping rule, entretanto, aquela que se refere à transformação das consoantes plosivas alveolares /t/ e /d/ em [D] quando elas ocorrem entre vogais, sendo a primeira tônica, é exclusividade do AmE. Exemplo de palavras em que ocorre o flapping: better, butter, city, water, writer, matter, automatic, category, demonstrated.

A ocorrência de flaps em BrE se dá como alofone do fonema /r/ veja explicação abaixo.

In America, a /t/ and a /d/ between vowels or nasal sonorants and vowels becomes a dental (alveolar actually) flap, written phonetically as [D]. Thus in America we have [twenDitu:] for 22 whereas the British have [twentitu:]. Now, in almost all English dialects, a voiceless stop consonant (/p, t, k/) is articulated with a strong puff of air accompanying its release. We call these sounds aspirated. English voiceless stops (and those of all Germanic languages) are aspirated. But the voiced stops are not. When in American English the dental /t/ between vowels or sonorants and vowels becomes a voiced stop [D], it looses its aspiration. But in British English, these consonants remain voiceless and therefore remain aspirate.

So British grammar does not have the Intervocalic Dental Flapping Rule but American English does. (meu sublinhado) However, British English has an Intervocalic /r/ Flapping Rule. Southern English, like Southern and New England American, deletes an /r/ after a vowel unless a vowel immediately follows. In Britain an r thus protected from deletion becomes the dental flap. Thus

"bear" = [be&] ([&] is the last vowel of sofa. But "bearing" = ['beDing].

So American and British English are phonetically identical -- both have voiceless aspirate and voiced unaspirate stop consonants and both have a voiced dental flap. But in America the dental flap is a predictable variant of /t/ and /d/ while in Britain it is a predictable variant of /r/.

Fonte: Tom Fitzsimmonw, Ask A Linguist <ask-ling@linguistlist.org>

Um abraço.
Atenciosamente,
Ricardo - EMB

Q#555: Ensino do verbo "to be" para criança
Oi,
Estou tentando ensinar alguma coisa de inglês para uma sobrinha de 9 anos e gostaria de saber qual a melhor forma.
Já passei bastante vocabulário e agora estou tentando inserir os artigos e o verbo to be, mas ela está encontrando dificuldade em entender. Como posso explicar de uma forma clara com que ela entenda?
Por favor, é muito importante.
Eliane <lia*coopcativa.com.br> Aug 30, 05

Cara Eliane,

Sua intenção de ensinar inglês para sua sobrinha de 9 anos é generosa e merece elogios. Sua abordagem entretanto me parece muito gramatical, na contramão do que as metodologias modernas recomendam, ainda mais no caso de crianças.

Como passo inicial, sugiro que você leia nossa página com um texto resumido sobre o aprendizado de línguas estrangeiras na infância: https://www.sk.com.br/sk-apre2.html

Sugiro também que você estude a hipótese de Harpaz que, resumidamente, diz o seguinte: A aquisição da fala e a descoberta do mundo são processos paralelos para a criança. A interação linguística da qual a criança participa proporciona a maioria dos dados nesse processo de desenvolvimento cognitivo. Como consequência, as estruturas neurais no cérebro que correspondem aos conceitos que vão sendo aprendidos acabam naturalmente e intimamente associadas às estruturas neurais que correspondem às formas da língua.

Ou seja, aquisição de elementos da língua depende de experiências concretas.

Você também deve se lembrar que o adulto já possui uma matriz fonológica sedimentada,e uma sensibilidade auditiva amortecida, treinada a perceber e produzir apenas os fonemas do sistema de sua língua materna. A criança, entretanto, ainda no início de seu desenvolvimento cognitivo, com hábitos menos enraizados e filtros menos desenvolvidos, mantém a habilidade de expandir sua matriz fonológica, podendo adquirir um sistema enriquecido por fonemas de línguas estrangeiras com as quais vier a ter contato. Por esta razão é importante que o modelo de linguagem a que a criança é exposta não apresente desvios de pronúncia. Isto nos leva à conclusão de que decisões a respeito do aprendizado de inglês das crianças devem ser baseadas menos na idade e mais na oportunidade. O resultado pode ser contraproducente se colocarmos a criança cedo em contato com uma língua estrangeira cujo modelo é caracterizado por desvios e ausência de valores culturais.

O que a criança precisa não é de artigos e verbos. É de contato humano, e linguagem sem desvios, associada a experiências concretas.

Pense nisso.
Atenciosamente,
Ricardo - EMB

PERGUNTAS & RESPOSTAS:
ÍNDICE
JULHO 2005 - DEZEMBRO 2006  |  JANEIRO - JUNHO 2005
JULHO - DEZEMBRO 2004  |  JANEIRO - JUNHO 2004
JULHO - DEZEMBRO 2003  |  ABRIL - JUNHO 2003
JANEIRO - MARÇO 2003  |  OUTUBRO - DEZEMBRO 2002
JULHO - SETEMBRO 2002  |  ABRIL - JUNHO 2002
JANEIRO - MARÇO 2002  |  OUTUBRO - DEZEMBRO 2001
JULHO - SETEMBRO 2001  |  ABRIL  - JUNHO 2001
JANEIRO - MARÇO 2001  |  OUTUBRO - DEZEMBRO 2000
JULHO - SETEMBRO 2000  |  ABRIL  - JUNHO 2000
JANEIRO - MARÇO 2000  |  OUTUBRO - DEZEMBRO 99
JULHO - SETEMBRO 99  |  ABRIL - JUNHO 99
JANEIRO - MARÇO  99  |  OUTUBRO - DEZEMBRO 98
JULHO - SETEMBRO 98  |  JANEIRO - JUNHO 98
MARÇO - DEZEMBRO 97  |  SETEMBRO 96 - MARÇO 97

Mande suas consultas para um dos endereços abaixo e nós responderemos com a maior brevidade possível. As perguntas interessantes, juntamente com as respostas, serão publicadas com o nome do autor.
 

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