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Vocabulário

Ricardo E. Schütz
Atualizado em 20 de março de 2013

Palavra

Quando se fala em vocabulário ou em palavra, é necessário entendermos os vários aspectos que o conceito abrange, como mostra o gráfico ao lado. A distinção entre forma oral e escrita é de importância maior no caso de uma língua como inglês, cujo grau de correlação entre pronúncia e ortografia é notoriamente baixo (veja Correlação Pronúncia x Ortografia).

Também a distinção entre significado e função gramatical é importante no caso do inglês, devido à grande quantidade de palavras que podem ocorrer como substantivo, como adjetivo e até como verbo. Exemplos: work, study, drink, walk, etc.

Além disso, o aprendiz de uma língua estrangeira deve ter consciência da importância maior que as palavras de conteúdo semântico têm sobre as palavras funcionais, quando o objetivo é comunicar. Palavras de conteúdo semântico são: substantivos, verbos, adjetivos e advérbios. Palavras de função gramatical são: artigos, preposições e conjunções.

Que significa "saber vocabulário"?

Assim como não é a quantidade de cores que determina a beleza de um quadro, não é o número de palavras que influencia diretamente nosso poder de comunicação.

Embora pareça natural ao leigo relacionar domínio sobre uma língua com quantidade de vocabulário, não existe no âmbito da linguística aplicada teoria equacionando habilidade em línguas com conhecimento de vocabulário. Nem habilidade nem conhecimento teórico em língua estrangeira podem ser medidos pelo número de palavras que a pessoa "sabe".

Em primeiro lugar, devemos investigar o significado de "saber", de "ter" ou de "conhecer" vocabulário. Saber uma palavra significaria apenas reconhecê-la quando a vemos, ou seria mais do que isso: dispor dela para expressarmos nossos pensamentos? Bastaria o conhecimento passivo, ou esse conhecimento teria que ser ativo? E bastaria reconhecê-la na sua forma escrita, ou teríamos que ter também a habilidade de reconhecê-la na sua forma oral? E se a reconhecêssemos na sua forma oral, seria o bastante reconhecê-la quando pronunciada isoladamente e claramente, ou teríamos que ter a habilidade de reconhecê-la quando pronunciada dentro de uma frase em velocidade normal de conversação, às vezes em meio a outros ruídos?

Por aqui já poderíamos concluir que a maioria de nós não tem um conceito claro do significado de "saber uma palavra". Entretanto, existem ainda muitos outros argumentos para demonstrar que não se mede conhecimento nem fluência em línguas pelo número de palavras que se "sabe".

Podemos concluir, portanto, que é praticamente impossível quantificar vocabulário, e podemos também inferir que habilidade (fluência) em línguas não está diretamente relacionada a simples familiaridade com vocabulário.

Só a estruturação gramatical da língua, isto é, a forma como o pensamento é estruturado, já é tão ou mais importante do que seu vocabulário. Uma coleção de palavras nunca chegará a formar uma língua. São necessárias as regras do jogo além das peças.

Línguas são fenômenos complexos que incluem também fonética, morfologia, sintaxe, cultura, etc. "Linguagem é um sistema de representação cognitiva do universo pelo qual as pessoas constroem suas relações", como colocou uma frequentadora do nosso site. Sistema esse, moldado pela identidade cultural de cada nação.

Assim como não é o número de páginas que determina a qualidade de um livro, nem a quantidade de cores que determina a beleza de um quadro, não é o número de palavras que influencia diretamente o nosso poder de comunicação.

Se fosse possível quantificar conhecimento sobre vocabulário, poderíamos nos arriscar a dizer que plena proficiência em um idioma estrangeiro, ou seja, fluência, depende 80/90% de pronúncia, 70/80% de gramática e talvez 10/20% de vocabulário (apenas 5% segundo Hammerly, considerando-se todas as palavras existentes no dicionário).

Portanto, habilidade em línguas não está diretamente relacionada simplesmente a familiaridade com vocabulário e, por esta razão, vocabulário não deve ser colocado como a grande prioridade durante a fase inicial do aprendizado. Vocabulário tende a ser mais facilmente assimilado à medida em que o aprendiz familiariza-se com a estrutura gramatical da língua e mais corretamente assimilado à medida em que se familiariza com a pronúncia da língua. Além disso, o ensino de vocabulário não deve ser predeterminado e dirigido, mas sim deve seguir um desenvolvimento naturalmente direcionado aos interesses do aprendiz e que progride na medida em que há contato com a língua em situações reais de comunicação.

Palavra x Locução

Word vs. Lexical phrase

Vocabulary has been traditionally thought of as individual words. Of course, this layman's view is inadequate because vocabulary includes many units which are larger than individual orthographic words.

Lexical phrases, também denominadas word combinations, collocations ou lexical chunks, são grupos de palavras que aparecem frequentemente juntas e que adquiriram identidade e significado próprios. Do ponto de vista do aprendizado de línguas estrangeiras, e dentro de uma visão linguística comunicativa-funcional, o conceito de lexical phrase como sendo a unidade de vocabulário é fundamental, pois leva o aprendiz a concentrar atenção em elementos conceituais que constituem a estrutura do discurso, mantêm sua coerência e caracterizam aspectos culturais.

Exemplos em português: bom dia / com licença / você é que sabe / por esta razão / pessoa jurídica. Exemplos em inglês: good morning / it's up to you / what I'm trying to say / as far as I'm concerned.

É importante portanto prestar atenção à indivisibilidade de certos grupos de palavras, dissociando-se a unidade léxica da unidade ortográfica demarcada por espaços.

Semelhanças

There are an estimated 750,000 words in the English language. Nearly half of these are of Germanic (or Teutonic) origin, and nearly half from the Romance languages (languages of Latin origin such as French, Spanish, and Italian or Latin itself).

From a lexical point of view, English is in fact more a Romance than a Germanic language.

No caso de aprendizes brasileiros, o problema de vocabulário é reduzido por ser o português uma língua latina e por ter o inglês cerca de 50% de seu vocabulário proveniente do latim. É principalmente no vocabulário técnico e científico que aparecem as maiores semelhanças entre as duas línguas, mas também no vocabulário cotidiano encontramos palavras que nos são familiares. Por exemplo: article, aspect, company, computer, contrast, creative, dictionary, exam, example, government, history, human, important, individual, influence, interesting, justice, liberty, license, method, modern, music, necessary, oficial, origin, photograph, production, project, pronunciation, revolution, student, supermarket, telephone, traditional, vocabulary, etc., são palavras que brasileiros entendem sem saber inglês. Leia mais sobre a influência do latim e do francês sobre o inglês em História da Língua Inglesa.

Contrastes

É importante dar-se conta, entretanto, de que vocabulário não limita-se a palavras. Também devem ser vistas como elementos de vocabulário as locuções idiomáticas (idioms), e muitas das frases usadas para expressar idéias comuns em situações cotidianas. Os maiores contrastes de vocabulário entre inglês e português (e consequentemente as maiores dificuldades) ocorrem justamente neste aspecto coloquial dos idiomas.

False cognates (falsos cognatos) também representam uma dificuldade peculiar no plano de vocabulário. Às vezes chamados de falsos amigos, falsos cognatos são palavras derivadas do latim, que têm portanto a mesma origem e que aparecem em diferentes idiomas com ortografia semelhante, mas que ao longo dos tempos acabaram adquirindo significados diferentes. Poderíamos relacionar pelo menos uns 30 falsos cognatos relevantes pela frequência com que ocorrem, e com os quais portanto o aluno deve procurar familiarizar-se.

Os verbos make, do, take e get, verdadeiros "curingas" ou "paus para qualquer obra", equivalentes aos verbos ficar e fazer do português, são responsáveis por um grande número de expressões com característica idiomática, e representam uma notória dificuldade. Um aluno de nível intermediário deve buscar adquirir familiaridade com as ocorrências mais comuns destes verbos.

Outro tipo de formas idiomáticas em inglês são os multi-word verbs, também chamados de phrasal verbs (verbos preposicionais, em que a adição de uma palavra (normalmente uma preposição) altera substancialmente o significado original do verbo. Também aqui o domínio de um certo número, talvez cerca de 20 ou 30 destas expressões, atende as necessidades mesmo de quem se propõe a alcançar um bom nível de proficiência em inglês.

Outra dificuldade, raramente focalizada em livros de ensino e cursos de inglês, é a questão da ambiguidade léxica, ou multi-meaning words (palavrasde múltiplo sentido). Em qualquer idioma sempre existem palavras que assumem diferentes significados. Quando isto ocorre com a língua estrangeira, no nosso caso com o inglês, a dificuldade é menor do que quando ocorre com a língua materna. São inúmeras as palavras de significado múltiplo em português, e frequentemente este múltiplo sentido não tem correspondente em inglês. Sempre que diferentes idéias representadas pela mesma palavra na língua materna corresponderem a diferentes palavras na segunda língua, o aluno terá dificuldades em expressar-se.

Orientações

Sempre que o aluno aprender uma nova palavra ou expressão, deve procurar assimilar não apenas o significado, a função gramatical na frase e a ortografia, mas também (e principalmente) a pronúncia da palavra.

O desenvolvimento do vocabulário da pessoa é fruto direto do contato com a língua, tanto falada como escrita. Para níveis intermediários e avançados, a leitura é especialmente recomendada, pois proporciona o desenvolvimento de vocabulário principalmente para termos literários, técnicos e científicos. Também é recomendável, assim que possível, fazer uso de dicionários monolíngues. Além disto, o contato com estrangeiros, filmes e gravações em geral servem como fonte de vocabulário, em especial do tipo coloquial. Filmes falados e legendados em inglês (closed caption) são ótimos. A atitude ideal para desenvolver-se vocabulário não é a de armazenamento forçado na memória, mas sim a de esforço criativo para expressar-se e exercício constante de relembrar o que já foi aprendido. Isto porque o fundamental não é apenas reconhecer (vocabulário passivo), mas dispor de palavras no momento em que se expressa (vocabulário ativo).


Veja também

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Schütz, Ricardo E. "Vocabulário" English Made in Brazil <https://www.sk.com.br/sk-voca.html>. Online. (data do acesso).